Diário de bordo

Sou um escritor iniciante, cuja a maior paixão é mexer com a imaginação e as emoções das pessoas. Como um eterno viajante, passo a vida navegando por mundos imaginários e vivendo aventuras sem fim. Criei esse blog inspirado em alguns escritores profissionais que relatam seu dia a dia, suas dificuldades e experiências em criar universos fantasticos. Acompanhe-me nessa viagem, mas tenha cuidado; Uma vez que se deixe levar pela fantasia, não há mais volta.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

O Gênio dos Livros

Ja falei em um post anterior sobre como o livro "O Gênio do Crime" do autor João Carlos Marinho mudou minha infância e como foi um dos responsáveis por me fazer ter gosto pela leitura (e posteriormente pela escrita.)

Eu devia ter uns dez anos de idade e naquela época não havia nenhum livro que eu realmente gostasse ou acompanhasse. Meu quarto era a biblioteca da casa e minha leitura em geral se resumia a enciclopédia Conhecer, o Manual do Escoteiro Mirim e alguns livros infantis.

Um dia fui à uma livraria com a minha mãe e pedi ao vendedor que me desse um livro de detetives para ler (eu havia lido "Eu, Detetive" para a escola e havia gostado) e ele imediatamente me indicou "O Gênio do Crime". Aquele pequeno livro de capa verde abriu minha mente para a leitura e logo eu estava lendo todos os livros da série até o último a ser publicado naquela época ("Berenice contra o Maníaco Janeloso"). O tempo passou e logo eu estava lendo outros livros maiores e mais adultos até encontrar Duna que veio a se tornar minha bíblia e referência como escritor.

Por um bom tempo, eu esqueci dos livros da Turma do Gordo até há alguns meses, enquanto lia casualmente o jornal pela manhã. Descobri que o mesmo João Carlos Marinho havia lançado um novo livro. Fiquei realmente feliz em ler aquilo, pois eu nem sequer sabia se o autor da
minha infância ainda estava vivo. Mandei um e-mail para o repórter pedindo uma forma de contatar o autor e poder agradecê-lo por ter me influenciado a ser escritor, mas nunca obtive resposta.

O assunto ficou novamente em espera por mais um bom tempo até conseguir meu emprego na Fnac e ser realocado para a área de literatura. Ali nos foi pedido que escrevêssemos o que chamamos por lá de "Paixão do Atendente" (uma resenha de livros que lemos e que gostamos bastante). Dentre os seis que escolhi lá estava o "Gênio do Crime", lido a tantos e tantos anos e do qual, incrivelmente, eu me lembrava de muitas coisas. Daquele dia em diante, sempre que um cliente me procura pedindo indicação de um livro para: "um menino de dez a doze anos que não gosta de ler" eu vou diretamente até o clássico e trato de vendê-lo à pessoa. Fiquei feliz também em ver diversos livros novos do mesmo autor e me comprometi a lê-los nos próximos meses.

Tudo bem, até aqui nada de novo, mas foi na noite de sexta para sábado que algo muito legal aconteceu. Eu estava sem sono e por alguma razão resolvi pesquisar o nome do autor na internet para quem sabe encontrar sua editora e por consequência tentar um contato. Para minha surpresa achei um site que possui um formulário para mandar uma mensagem direto para ele. Eu o preenchi contando minha história e sobre como ele me influenciou a ser um escritor e em seguida mandei. A surpresa chegou no Sábado, no final da tarde, quando vi na minha caixa de e-mail que o autor havia respondido minha mensagem. Segue abaixo a integra da carta:

Caro Claudio

O que o Gênio do Crime fez com você o Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato fez comigo quando eu era criança. Eu lia livros sem muito interesse, na maioria das vezes já largava no começo, mas quando me caiu na mão o Caçadas de Pedrinho aquilo me fascinou e fui lendo de um em um todos os livros de Monteiro Lobato, e relendo sem parar, e comecei a escrever histórias, bastante ingênuas , porque eu era criança, mas fiquei ligado na literatura e não parei mais. Fico feliz que o Gênio do Crime deu esse tipo de empurrão em você. O seu blog está muito bom, vejo que neste fim de 2006 você está passando por uma fase muito feliz, trabalhando no meio de livros, na véspera de publicar um e com uma boa amiga, a Julia, o que é muito importante.
Quando tem uma Bienal do Livro eu aviso pessoalmente todos os leitores que se correspondem comigo e gosto muito quando eles vão lá no estande da Global e fica um papo animado.
Muitas felicidades com o livro, e tenha sempre na cabeça que a literatura não é uma comunicação de massa, ela tem um passo discreto assim como discreta é a fama do escritor.

Um abraço

João Carlos Marinho

Talvez o que mais me impressionou nessa mensagem foi a acessibilidade e a humildade que um autor consagrado como ele demonstrou. Vocês devem se lembrar do post sobre a arrogância autoral que publiquei há algumas semanas e de como um autor mesmo desconhecido é capaz de comer atum e arrotar caviar por ai. João Carlos Marinho, do alto de seus 70 anos de experiência me ensinou mais uma lição: a de que devemos sobretudo escrever com o coração e de que mais importante do que aparecer na midia é escrever algo que realmente mexa com a imaginação de alguém e a faça sonhar. Espero conseguir fazer isso um dia, mantendo sempre com os meus leitores o mesmo tipo de contato simples e humano que pude sentir nesse e-mail.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

*nhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiii*

*infarta*

Que lindo, Villa!!!

1:31 AM  
Blogger Ana said...

Que legal, Claudio! Uma carta como essa é um incentivo e tanto. Daqui a várias décadas, com certeza, você também terá a oportunidade de escrever a um jovem (talvez adulto jovem) admirador, e vai se lembrar deste momento com carinho e saudade.

Beijos,

Ana

P. S. Na Estante, comecei a publicar uma lista dos melhores livros que li este ano. Se puder, dá um pulinho lá.

5:39 PM  

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