Diário de bordo

Sou um escritor iniciante, cuja a maior paixão é mexer com a imaginação e as emoções das pessoas. Como um eterno viajante, passo a vida navegando por mundos imaginários e vivendo aventuras sem fim. Criei esse blog inspirado em alguns escritores profissionais que relatam seu dia a dia, suas dificuldades e experiências em criar universos fantasticos. Acompanhe-me nessa viagem, mas tenha cuidado; Uma vez que se deixe levar pela fantasia, não há mais volta.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Uma Aventura de Verdade


Esse é um daqueles momentos na nossa vida aonde algo extraordinário acontece e nos oferece uma experiência única a ser lembrada pelos anos seguintes.

Antes de começar a história, devo avisar que talvez ela pareça tola ou banal para alguns e é por isso que quero me colocar corretamente no contexto antes de contá-la. Desde sempre eu nunca desfrutei de um bom porte físico ou uma agilidade invejável. Sempre era uma dos últimos a ser escolhido nas aulas de educação fisica.
A vida sedentária depois de adulto somado a minha total inabilidade em controlar qualquer tipo de bola (seja nos pés ou nas mãos) fazem com que desafios de resistência sejam para mim muitas vezes maiores do que realmente são.

Essa história começa no Sábado (14/01), mais precisamente ás 09:00 da manhã quando parti junto com alguns amigos para um bate volta nas praias de Ubatuba. Chegamos por volta do meio dia e após almoçarmos, decidimos visitar duas praias afastadas do centro(Praia do Bonete e Praia do Cedro) aonde poderiamos desfrutar do lindo dia de sol que estava fazendo.

A caminhada levaria cerca de 2 horas por uma trilha fácil e muito bem sinalizada, sendo que o risco de se perder era nulo. Estando em seis pessoas e vendo diversas outras tomar a mesma trilha, seguimos em grupo em busca das tais praias. Antes porém, para evitar o cansaço do final do dia, agendamos com um pescador de ir nos buscar de barco, na última praia, por volta das 19:30. Fechado o preço, seguimos mata adentro.

O caminho até a primeira praia foi cansativo, mas relativamente tranquilo. Paramos em um quiosque, bebemos alguma coisa e nos preparamos para seguir viagem pela trilha até a ultima e mais bela praia. (decidimos passar direto pela segunda). Ao chegar a beira da trilha, nos foi apresentado duas opções: Seguir por uma trilha semelhante mata adentro ou ir beirando a costa através das pedras. Ali havia um garoto que tinha casa na região e que garantiu conhecer bem aquele pedaço. Perguntado sobre a trilha das pedras ele disse que ela não era mais rápida ou curta que a pela mata, mas que era tranquila. Sendo ainda 16:00 e tendo tempo de sobra, resolvemos seguir pelo caminho de pedras e aproveitar a aventura. Mal sabia eu que estava entrando em uma estrada sem muitas opções.

No inicio, o caminho era realmente fácil, mas logo notei que era bem mais longo do que poderia supor. Conforme avançavamos, a dificuldade e os obstáculos aumentavam. Havia lugares estreitos, pedras inclinadas aonde só podia se avançar sentado e um infinito sobe e desce que se seguia a cada curva. Aos poucos as mãos começavam a ficar ásperas e cheias de pequenos cortes e arranhões devido aos agarrões nas pedras. As pessoas se ajudavam umas as outras, ora puxando, ora oferencendo um apoio aonde se firmar. Alguns eram mais ágeis, enquanto outros (como eu) eram mais lentos e pouco a pouco iamos seguindo.

Após aproximadamente 30 minutos de caminhada chegamos ao local que batizamos de "Point of No Return", uma parede de pedra de aproximadamente 3 metros de altura aonde se subia apoiando seus pés contra a pedra e erguendo o corpo com o auxilio de uma corda. Naquele momento minha espinha gelou e eu tinha plena certeza que não conseguiria subir. Seria impossivel voltar sozinho e não tendo opções, respirei fundo e encarei o desafio. Lembram o que falei sobre minha falta de agilidade? Pois bem, ali precisei da ajuda de dois amigos sendo que o primeiro me empurrou para cima enquanto o outro agarrou meu braço, me puxando para junto dele. No topo havia um pedaço de mata fechada, repleto de folhas de bromélias (pelo menos foi o que me disseram) o que causou em todos uma série de arranhões desconfortáveis.

Eu havia vencido meu primeiro grande desafio, e com o apoio moral e os cumprimentos dos amigos por aquela façanha (eles conheciam meu medo), me enchi de ânimo para seguir em frente.

Seguimos andando por mais quinze minutos, sempre tendo a esperança de ver a areia da praia ao virar a próxima curva de pedras, sendo que logo desisti de contar quantas vezes me decepcionei com isso. Chegamos ao meu segundo grande desafio, uma pedra que exigiria um esforço ainda maior do que a da corda. Nesse cenário eu estava com água do mar até a cintura, pisando em pedras cheias de limo e alguns ouriços próximos (a minha sandália se mostrou vital nessa hora). A manobra exigia que apoiasse meu pé direito em uma pedra inclinada na altura de minha cintura, segurasse com as mãos em uma rachadura na pedra e impulssionasse meu corpo para a cima. Minha elasticidade não me permitia alcançar o tal degrau e ali realmente senti muito medo de ficar para trás. Um amigo veio do meu lado, firmou sua perna esquerda na pedra ao meu lado, transformando seu joelho em um degrau para mim. Segurei na sua mão, coloquei meu pé no seu joelho, segurei a mão de um segundo que já havia subido na pedra e empurrei meu corpo. Após o puxão do amigo que estava em cima da pedra e de um arranhão considerável no braço, eu estava lá em cima.

Houveram outros desafios mais na frente, mas não vou ficar aqui descrevendo cada um deles. O importante é frisar e sobretudo linkar toda essa história ao própósito desse blog que é descrever as experiências e dificuldades como escritor. O primeiro ponto foi o verdadeiro bombardeio de experiências sensoriais que tive nessa aventura. Os cheiros, o tato, as imagens, as sensações, os medos que tive nessa trilha, tudo é material para ser arquivado e usado em histórias futuras. Agora poderei descrever com mais realismo (já que senti na pele) muito do que vivenciei ali.

A segunda coisa foi experimentar o verdadeiro espirito de companheirismo, de ajuda mútua. Sentir o incentivo dos amigos frente aos desafios; ouvir o "Você conseguiu" e o "Não desista, estamos chegando" Isso sem dúvida ira me ajudar a compor o relacionamento entre personagens.

O terceiro e último (e talvez mais filosófico) foi o de perceber que quando se tem os amigos por perto, não existe pedra suficientemente ingrime que eu não possa escalar. Enviar meu trabalho para diversas editoras me causou um medo enorme, mas percebi que esse não é o pior problema do mundo. Estou tentando a sorte no mercado editorial, mas se tudo mais falhar eu vou insistir nesse sonho por outros meios, eu vou escalar a pedra até chegar no topo.

Mas com toda essa divagação, eu acabei esquecendo de contar o final da história. Após umas duas horas de caminhada finalmente avistamos a areia da praia. Me lembro de ter gritado "terra a vista" para os amigos mais atrás e de ter corrido como uma criança em direção a areia. O banho de mar em uma praia deserta, aonde com a água na altura da cintura era possivel ver meus pés, foi um prêmio mais do que merecido.

Nós já combinamos em voltar para essa praia muito em breve, porém já tomamos uma decisão: da próxima vez, nós vamos de barco.

2 Comments:

Blogger Babi said...

Amei a história, se bem que eu já tinha escutado, né?
Vc me fez lembrar o Sam do Senhor dos Anéis. Fiel escudeiro e nunca desistia das pedras. Lembra do medo dele de entrar no rio? Mas a sua amizade foi maior e ele não deixou o Frodo ir embora.

Realmente, qd se tem amigos, têm-se tudo. Nós somos agraciados e não nos damos conta disso.

Grande aventura, hein? Hahaha...

Bjs!

9:44 PM  
Blogger Marti said...

Poxa, Paul, Parabéns!!!! Agora só falta vocês inventarem de construir o barco pro as próprias mãos pra dificultar um pouco, auhahuauh!


=*

1:05 AM  

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